quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Nosso Blog em Qualquer Aparelho!

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3 comentários:

Unknown disse...

Hoje eu dei um mergulho em mim mesmo
Eu devia de ter uns 10 anos.
De manhãzinha, Mamãe Chiquinho gritava alto: “Menino, acorda! Dá a lavagem aos porcos e vai-te-embora que a aula já começou”. Chegava cedinho, sem graça nos olhos e na vida. Mas a alegria vinha sempre que sentia o cheiro da merenda. A fome batia em nossa alma e o único lugar onde uma criança, sem futuro, podia comer era na escola. A merendeira reconhecia-me sempre entres meus pares por uma única razão: Eu repetia, repetia e repetia e, se deixasse, eu rasparia as panelas, tamanha era a fome. Eu comia com muito gosto, o cuscuz com sardinha, a macarronada, a almondega de soja, o arroz queimado com carne moída e, tinha um apreço especial pelo achocolatado com bolachas de água e sal.
Eu, nada tinha. As cocadas e “dindins” que Mamãe fazia não pagavam os custos de seu trabalho. Era preciso engordar o porco, lavar roupa alheia com sabão em barras. Nos dias 20 do Padre Cícero, Mamãe vestia-se de preto, subia numa caminhonete e ia agradecer o dom da vida ao seu Padim, lá no Juazeiro. Na volta, trazia sempre a mesma coisa: Café, sabão, rapadura e açúcar. Eu fuçava a sacola da feira em busca de um brinquedo; mas ele nunca estava ali.
Por vezes e, muitas vezes, a enxada tomava o lugar do lápis em minhas mãos infantes. Papai, embora alimentasse o sonho dos estudos em mim, tinha que ensinar-me o caminho da roça e a rigidez do machado. Solitário, frágil e de idade avançada, de certo modo, carecia de uma mão, sempre que a chuvinha vinha e a erva daninha encobria os pés do milho e do feijão. (Continua)

Unknown disse...

Eu menino, corria de bermuda jeans, sem camisa, com um chinelo comido de lado e, com o cabresto saindo, encurtando o passo, tinha que administra a roça, o feixe de lenha, o milho da pamonha, a lavagem do porco, a trouxa de roupas suja e; a escola, era a ultima prioridade em minha vida. Era uma coisa terrível. Somente quando a seca vinha e matava a esperança da colheita, era hora de voltar à escola.
Lavava a bermuda, vestia minha camisa verde de seda e já sem botões, remendava o cabresto do chinelo velho, apontava o lápis, tirava as folhas usadas da caderneta de notas do Papai e ia de peito aberta, barriga vazia e coração livre, aprender o ABC do Sertão.
Havia duas professoras das quais guardo profunda recordação, mas perdi seus nomes na memoria, bem como o nome da merendeira. Vez ou outra, lembro-os frescamente e até converso com eles em sonho. Uma delas era morena, magrinha de sorriso grande e cabelo curto. Tinha uma elegância oculta para meus padrões. Admirava-a pelo bem vestir-se, pela voz serena e, sobretudo, por transmitir um olhar de ternura à minha miséria. Fora ela quem segurou minha mão e ensinou-me a escrever todo o alfabeto da letra A à Z. Sua escrita linda e corrida, dava-me inspiração.
Depois, apareceu a outra professora. Jovem, casada com um caminhoneiro e grávida, vestia-se como se fosse uma fada madrinha. Usava batom vermelho, calça branca de sarja e uma blusa vermelha que combinava com as sapatilhas e a fivela do cabelo, no dia em que o avião a jato passou e a explosão quase a mantou de susto.
Seu sinal no rosto dava um toque especial à sua aparência peculiar de quem guardava a doçura de esposa e mãe. Nunca soube se era feliz ou não; mas o fato de ter um marido um tanto rude, dava-me a esperança de encontrar a mulher dos meus sonhos. Criança sonha e sonha muito. Os professores são sua inspiração para sonhar.
Isto durou por três ou quatro anos até que a esperança de vida melhor bateu em minha porta. Outra mãe, fora buscar seu filho que nunca o vira depois de nascer, para viver em São Paulo. Quando soube de minha partida, a menina que mais me odiava na escola, chamou-me na mesma sala onde aprendi a ler, entrelaçou nossas mãos e deu-me o beijo mais longo e gostoso da minha vida. Este nome eu nunca esqueceria: Vera.
Fui embora para nunca mais voltar. Voltei duas vezes; mas as ruas, as amizades, aquela vida, já não eram mais minhas. Vera casou-se, a escola ficou para trás, Papai e Mamãe se foram e, minha inocência de menino pobre desapareceu para sempre.

Unknown disse...


Hoje sou Economista e combato a corrupção, o mal social que afeta indiretamente o bem estar de todas as crianças do nosso país. Casei-me não com uma fada; mas com uma princesa polonesa e com ela tenho o filho mais especial que um pai possa ter. Educo-o para a vida e o tenho como grande contraste entre a criança que fui e àquela que gostaria de ter sido, o filho que tenho. Faço de tudo para que a escola seja sua prioridade, que brincar seja sua ternura e que a amizade seja sua força.
O mês que vem, mudo de país, não para esquecer mina história; mas para dar sua continuidade e buscar mais. Eu fora pobre, por longos anos pobres; mas encontrei pessoas que me mostraram infinitas possibilidades. Minha memória é um dom e dou graças por lembrar-me de cada detalhe da vida: As paredes, as lousas, as estantes dos livros, as janelas e formas ainda são as mesmas de quando eu era criança. Volto nelas sempre que posso, para ver pessoas, para ver ternura, para ver quem sou, quem me ajudou a ser e para guardar, fresco na memória, o cheiro da vida.
Hoje ao fazer isso, procurei na internet e encontrei o blog da EEF Dom Quintino. Onde vivi todas estas aventuras. Li todos os posts, do começo ao fim, em busca de alguém que conhecesse e da história que vivi. Não tinha mais evidencias daquelas pessoas; mas nas fotos, cada rosto, cada sorriso, cada expressão, cada gesto e cada canto daquela escola, levaram-me ao mais profundo de mim mesmo. Neles encontrei-me e revivi detalhes importantes da minha história.

Cordiais saudações,
Fabio de Freitas
Ou melhor: “ Fabio de Dona Chiquinha e Seu Zé Dantas”.